Confesso que fiquei abobado com a primeira visão da Notre-Dame de Paris. Chegamos à noite, e a iluminação e a riqueza de detalhes criam uma atmosfera impressionante. Sou apaixonado por igrejas, e acho que um local de culto deve ser no mínimo assustador o suficiente para fazer com que os fiéis corram para casa limpar as calças e prometam a si mesmos nunca mais dizer o nome de Deus em vão. Essa primeira visão cumpre bastante bem o requisito.
Entrando na igreja a história é um pouco diferente. Chegamos durante uma missa, e foi um pouco como entrar na Disneylandia. Holofotes, uma cruz iluminada - acho que com néon - bancas de vendas de souvenirs, telões de Plasma... não que eu não seja um turistão de última, mas todo aquele espetáculo incomodou. Parecia que tudo - incluindo o presépio multicolorido high-tech - conspirava para reduzir as dimensões da catedral, ao invés de aumentá-las - o que seria a intenção dos primeiros construtores. Duas decepções menores foram os vitrais (adoro vitrais religiosos, mas os de Notre-Dame são pouco mais que costas de cartas de baralho) e o tamanho (grande, mas não gigantesca). Enfim.
Sacré Coeur compensou muito mais. Talvez pela via crucis que fizemos para chegar lá - incluindo duas escadarias bastante respeitáveis, - talvez pelo contraste com Notre-Dame, a igreja surgindo por trás dos outros prédios é de derrubar qualquer queixo. A entrada tem menos detalhezinhos, mas parece mais elaborada e mais esmagadora. E o aviso logo na entrada, algo como "Esta é uma igreja católica, não tirem fotos", impõe muito mais respeito. A não ser por uma ou duas máquinas de medalhinhas - que parecem ser onipresentes como Deus, - não é um ponto turístico tão óbvio.
Agora, nada que eu tenha visto na vida se compara à Notre-Dame de Reims. Era essa a catedral aonde os reis franceses vinham ser coroados, por motivos óbvios. Em linhas gerais tem o mesmo desenho da de Paris, mas é muito maior, muito mais assustadora, muito mais detalhada. Como se a de Paris fosse apenas uma maquete para ela.
Dentro se tem a explicação de toda a fé. A primeira vontade é a de se ajoelhar e rezar, não por se acreditar em Deus ou coisa parecida, mas porque é a única reação racional. Qualquer outra seria imprópria. Cada estátua, cada detalhe de vitrais tão altos que não se podem ver, cada vela acesa, cada estátua, tudo evoca algo maior do que se pode entender. Melhor desistir e lembrar das aulas de catequese.
Ok, tem também a barraquinha de venda de lembranças e as máquinas de medalhinhas, mas de um modo muito mais comedido que a Notre-Dame de Paris. Nesse sentido pode não ser uma Sacré Coeur, mas ainda se dá a algum respeito. E a estátua da Joana d'Arc é, sinceramente, bem feia, mas as velas queimando na frente são de uma ironia ótima e nem tão sutil.
Há 9 anos