domingo, 15 de fevereiro de 2009

S'il vous plaît

Depois de quase três meses em Paris (e/ou arredores), Londres é um choque. Eu poderia falar aqui das food and wine 24h abertas em qualquer esquina, mesmo afastadas do centro, enquanto que em Paris é preciso caminhar bastante pra achar um mercadinho que seja aberto em um domingo; de boas refeições a 5 ou 6 libras, contra os 6 a 10 euros por uma comidinha meia-boca parisiense; dos pints de cerveja por menos de 3 libras em pubs movimentados e centrais, quando só lugares escondidos em Paris vendem as mesmas cervejas por menos de 6 euros; de ser possível entrar em algum lugar, sentar onde quiser e ser bem atendido mesmo que seja só para tomar uma coca-cola, ao invés de receber um olhar de profundo desprezo por ocupar uma mesa qualquer em um bistrô vazio para comer; do poder sair a qualquer momento e encontrar ótimos lugares para se conhecer ou simplesmente passar um tempo, em vez de um leque limitadíssimo de opções dependendo do dia e horário. Todos são ótimos exemplos, mas o que choca de verdade são as pessoas.


É fácil perceber a diferença cultural entre as duas cidades. Há uma forte questão de respeito ao espaço individual em Londres, questão que é ostensivamente ignorada pelos franceses. O exemplo clássico talvez seja o lugar comum do francês ocupando sozinho, bunda-bolsa-perna-perna, quatro bancos de um metrô cheio, coisa que se enxerga fácil em quaisquer dois dias de metrô parisiense. O londrino senta em seu banco, mochila no colo, lendo seu jornal, mesmo com dois ou três bancos vazios ao redor. O metrô londrino, aliás, tem cartazes pedindo que os passageiros não ocupem mais de um banco, não comam nada com cheiro forte e não falem alto ao celular. Do mesmo modo, já é uma segunda natureza o acotovelar-e-ser-acotovelado para entrar e sair do trem em Paris, mesmo que as pessoas saindo e entrando não sejam tão numerosas. Esse comportamento é uma exceção rara em Londres, onde os passageiros de fora abrem espaço e esperam que todos saiam antes de começar a entrar, mesmo em trens lotados e horários de pico.


Mais de uma vez em Londres vi o caso de duas escadas, uma para descer e outra para subir, separadas por um mero corrimão, com quase ninguém deixando de seguir essa ordem, não importando se uma das escadas está entupida e a outra vazia. Filas são respeitadas e ordeiras. Casos de tumulto, como uma linha de trem bloqueada, são contornadas por vários funcionários orientando os passageiros e avisos escritos em quadros-brancos explicando quais os melhores desvios para quais destinos. A sinalização é farta e clara. Os atendentes de lojas, bares e serviços públicos são, em sua grande maioria, educados e extremamente solícitos. Os exemplos são fartos, e todos se chocam de frente contra o dia-a-dia parisiense.


Qualquer curso de línguas ensinará que é preciso ser extremamente educado em francês. Antes de mais nada aprende-se a gastar saliva com bonjour, excusez-moi, s'il vous plaît, pardon, au revoir. Mas é uma educação protocolar e vazia. É óbvio que se precisa pedir licença ao parisiense padrão parado na saída da escada rolante enquanto os outros tentam passar por ele, coisa que seria totalmente desnecessária se a educação fosse utilizada na prática e o tal parisiense simplesmente não estivesse parado no meio do caminho. O problema é que, enquanto o francês tem o olhar reprobatório a quem não pede desculpas, o inglês reserva o mesmo olhar a quem está agindo de um modo grosseiro, o que faz toda a diferença. A placa londrina não só diz que você vai ganhar uma multa por não limpar o cocô do cachorro na calçada, ela também diz que quem faz isso é mal-educado, sujo e não tem consideração com os outros.


Talvez o pior aqui não seja tanto o comportamento, e sim a sua rotina. O deixar de perceber a falta de modos generalizada e cultural e pensar que isso não existe, que tanto faz. Até dar de cara com um exemplo oposto, de como as coisas podem ser organizadas e agradáveis e de como isso parece fácil e natural se as pessoas estão realmente tentando.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Londres x Paris

Tá, é brincadeira, não vou fazer essa comparação. Basicamente porque é covardia. Londres é uma capital européia fantástica. Paris é tipo uma Porto Alegre mais velha, mais bonita, mais tediosa, mais cara, mais mal educada, mais desorganizada e com menos coisas pra fazer. E não, não é bairrismo, Paris é uma cidade de interior. A parte prédios-lindos-e-muito-velhos não chega a compensar a dificuldade de se tomar uma cerveja ou o fato de tudo fechar no domingo. Ou os malditos franceses.

Moraria em Londres fácil fácil, se não fosse o clima. Em Paris, nem pensar.

PS: Fotos de Londres em http://picasaweb.google.com/rodrigo.roesler/England2009?feat=directlink

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Frio, fotos, Inglaterra

Amanheceu nevando hoje. Neve é uma coisa que eu dispenso, mas tenho que admitir que as coisas ficam mais bonitas logo depois que passa, quando o ar fica totalmente limpo. Fora isso, anda frio demais para existir, o que está evitando que a gente saia de casa. Sábado íamos ver a comemoração do ano-novo chinês e Orfeu Negro, que estava passando num cinema daqui. Foi impossível. Mesmo a Taís, que adora frio, agora concorda que já passou de qualquer limite suportável.

Para quem acompanha o album do flickr, ele está sendo abandonado aos poucos. Apesar de eu gostar do serviço, ele tem limitações demais na versão gratuita. Vou continuar postando uma ou outra foto por lá, mas mudei o album oficial para o Picasa. Todas as fotos já foram "migradas", e a partir de agora o que surgir de novo vai direto para lá.

No fim da semana vamos para Londres e, de lá, seguir para outros lugares da Inglaterra. Entre outros, vou passar o meu aniversário em Liverpool. Tentarei manter o blog atualizado, coisa que não estou fazendo nem aqui, trancado em casa.